sexta-feira, julho 30, 2010

CRÔNICA DO INSTANTE DESATIVADO
Ontem o sol estava radiando e a radiação tomou conta de mim.
o dia caminhava ao som de buzinas, pássaros, gritos, canções, mas por um instante o céu se apagou
- o que aconteceu?
- só vi quando desabou ai.
o universo caminha lento no seu transcorrer de tempo, o vento estava parado e ao redor um multidão.
- oi você me ouve? o que aconteceu com você?
- ah eu só...
flash de memória. Num instante a roda gigante começou a girar: só preciso de me sentar à sombra.
as sombras eram indefinidas as vozes altas e destoadas, vozes ao microfone, carros passando pessoas caminhando e no ar pombas fazendo o seu balé diário em frente a igreja que se aproximava.
- vc tem dinheiro pra pegar um taxi?
- vc quer ligar pra alguém?
- tenho, tenho sim.
diversas mãos segurando firme ao que se punha a baixo. Diversas palavras, e silêncios.
- meu deus acode! ele tá verde.
- vc está bem?
-Cade minha mochila?
- Tá aqui.tá tudo aqui,fica tranquilo.
a sensação de estar sendo conduzido sem saber pra onde, os becos, e o calafrio num dia ensolarado.
-abre a boca essa bala vai te ajudar.
as balas também podem matar mas a consciência nao veio.
- meu deus o menino tá gelado, acode!!
passos, braços, caminhada...
- pra onde estão me levando? cadê minha coisas, me põe no chão.
imagens desfocadas, pessoas desconhecidas e uma sensação de alegria, afinal morrer não dói como afirmou cazuza, a sensação é boa. alegria
- ele está rindo? ( será que alguém disse isso?) por um instante o corpo em paz, a mente sem referencia, e o riso veio.
O corpo desativado. o mundo parou, tudo estava escuro e de repente a euforia do dia a dia: cores, cheiros, sons, tato.
- alô, vem me busca aqui, estou dentro de um ônibus, estou preso ao lado da policia civil. Vem por piedade estão me segurando aqui e eu preciso ir.
com todos os movimentos e palavras recobrados a vida seguiu o seu rumo. sobrou a feliz sensação de ter sido desativado por alguns segundos no centro de uma cidade em extase.

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