O Pranto da Escavadora (trecho inicial)
I
Só o amar, só o conhecer
conta, não ter amado,
não ter conhecido. Angustia
o viver um consumado
amor. A alma já não cresce.
Assim, no calor encantado
da noite que cheia desce
pelas curvas do rio e as súbitas
visões da cidade embaçada de luzes,
ecoam ainda as mil vidas,
desamores, mistério, e miséria
dos sentidos, tornando-me inimigas
as formas do mundo, que ontem eram
ainda a minha razão de existir.
Exausto, entediado, torno por negras
praças de mercados, tristes
estradas em torno ao porto fluvial,
barracos e armazéns mistos
com os últimos prados. Lá, mortal
é o silêncio: e ali, na Viale Marconi,
estação Trastevere, é doce o final
da tarde. E lá nos seus rincões,
nos subúrbios, ligam os motores
ligeiros — vestidos ou só de calções
de trabalho, num impulso de festivo ardor —
os jovens, com amigos na garupa,
rindo e sujos. Os últimos clientes
conversam em pé e em alta
voz à noite, aqui, ali, em mesinhas
de bares ainda luzentes e semivazios.